O SENSÍVEL E O VISÍVEL: SONHO, MEMÓRIA E LEMBRANÇA EM PESSOAS PRIVADAS DO SENTIDO DA VISÃO
José Carlos Silveira Duarte
Resumo
Este trabalho, além de uma revisão bibliográfica a partir da perspectiva da fenomenologia, da abordagem cognitiva e da vertente histórico-cultural, buscou compreender como pessoas privadas do sentido da visão percebem a luz e a cor, como se realiza a lembrança e a recordação, como sonham, como se relacionam com seus pares, como aprendem a utilizar os demais sentidos para conquistar sua autonomia e superar a deficiência.Na busca de respostas, foram entrevistadas dez pessoas pertencentes à Associação Conquistense de Integração do Deficiente, entidade com 27 anos de existência. Apenas um dos entrevistados teve cegueira congênita, os demais sofreram algum tipo de degeneração ocular. O postulado de que a cor é uma qualidade do objeto foi contestada pelas declarações que indicaram serem as formas e as cores elementos da consciência.Os entrevistados demonstraram não ter problemas de ordem simbólica e comunicativa, utilizam suas habilidades sensoriais para se situar no mundo e percebem a linguagem como um processo cognitivo muito importante. Os depoentes indicaram enfaticamente o processo de superação das limitações através do fortalecimento da vontade e das determinações mentais, uma vez que a deficiência está apenas no corpo e não na mente. O ineditismo desta abordagem parece residir na inquirição de como sonham os cegos. As palavras chave na conformação dos sonhos, das lembranças e da memória parecem ser imaginação e imagens mentais, ver através da imaginação, ver através de analogias, de conceitos, e de sua experiência social.Os depoentes se entusiasmaram mais em falar dos sonhos do que das lembranças, talvez porque nos sonhos eles podem realizar seu grande sonho: voltar a enxergar, mesmo que seja pela imaginação, pelas imagens lembradas ou imaginadas.
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